SINOPSE: “Linnéa (Bella Cherry), uma jovem de 20 anos, deixa uma pequena cidade na Suécia para gravar um filme pornô em Los Angeles. Seu objetivo é se tornar a próxima grande estrela pornô, mas o caminho até lá será mais doloroso do que ela imaginava.”

De uma forma quase que documental, Pleasure vai mostrar o processo de evolução de Bella Cherry, o nome artístico de Linnéa, como atriz pornô, passando pelos degraus que ela vai subindo em busca de alavancar seu nome na indústria e as coisas nas quais ela precisa se submeter para atingir o seu objetivo.
É impossível assistir o filme sem sentir repulsa na maioria das cenas, pois mesmo que se inicie de uma forma digamos “inocente”, ele sempre esclarece o quanto isso é insignificante para a indústria pornográfica, e que em suma maioria, ela se sustenta através da misoginia e até mesmo do racismo, em outras palavras, em estereótipos de gênero e raciais.
Por mais que pareça que Bella tem um certo orgulho de sua profissão, sempre indo atrás de novas experiências, é sempre colocado em questão que os tipos de conteúdos que ela produz são insignificantes e jamais iriam chamar a atenção de quem é considerado elite no meio. Em outras palavras, ela não atenderia os desejos sexistas e fetichistas de um público que sequer teve contato com o sexo como ele realmente é, por mais que o filme não exponha esse lado do consumo, é um debate que está em aberto.

Determinada a conseguir ainda mais renome no meio da indústria, Bella parte para conteúdos mais pesados e de teor fetichista, colocando seu corpo a limites extremos, assim como sua sanidade mental, mesmo que ela passe pelas piores humilhações. O fato é que logo nas primeiras cenas do filme, ela aparece fazendo a assinatura de um contrato no qual esclarece que ela concorda com a sua imagem sendo publicamente divulgada em situações de sexo explícito, algo que nós não sabemos exatamente tudo o que de fato está escrito nesse contrato. Essa questão contratual também se faz presente nas outras situações, porém é de se questionar todas as questões de quebra de contrato, pois em um dos momentos mais repulsivos do filme, fica bem claro que se ela não concordasse em prosseguir as filmagens, ela não receberia nenhum pagamento, mesmo que ela não se sinta mais confortável. Nesse ponto, nos é mostrado que por mais que ela esteja ao lado de “profissionais”, e que o tempo todo eles a consolem e a incentivem dizendo que ela está fazendo um excelente trabalho, isso perde o valor quando Bella faz a menção de desistir, e isso é algo que nos faz pensar que tudo gira em torno de lucro e capital, e não seria diferente dentro da indústria pornográfica, que submete várias mulheres a todos os atos de humilhações possíveis, apenas para vender um conteúdo que suprima as vontades mais fetichistas possíveis. E é óbvio que a indústria está interessada em lucrar em cima disso, e jamais iriam se importar caso esse tipo de conteúdo gere um comportamento misógino na maioria dos homens.

O filme também mostra que há disputa até mesmo entre as atrizes, e que inclusive muitas precisam passar por cima de outras para chegar em seus objetivos de carreira, mesmo que seja por cima de uma amiga. E por mais que essas mulheres em determinado ponto aparentam trazer um certo empoderamento, mais especificamente com o sentimento de “a dona de tudo”, vemos que isso é deixado de lado quando elas se submetem às gravações. Em outras palavras, não existe empoderamento quando se está subordinada à indústria, e isso fica exposto em determinada cena, quase que para o final do filme.
Vários debates podem ser criados a partir do tema e do desenvolvimento do filme, e os principais são os malefícios causados às mulheres que atuam no ramo, e que também não impede de afetar as mulheres que estão fora e bem distantes do ramo. É impossível passar por algumas cenas sem sentir repulsa e um grande incômodo, mesmo que em algumas sequências vemos apenas uma tela preta com sons bem explícitos de fundo. É um filme que também nos faz pensar em todo tipo de extremo que precisa se chegar com intuito de se criar um forte nome dentro da indústria, mas ao mesmo tempo, expondo as consequências disso, como as humilhações que ocorrem, e mostrar o que acontece quando se consegue o que quer, e ser um objeto de lucro é uma dessas “conquistas”.

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